Ainda no mês de janeiro, a equipe do Macunaíma, professores, coordenação e direção, se preparava para o retorno das atividades letivas, que tiveram início no dia 1º de fevereiro de 2020. E, como em todo começo de semestre, a Semana de Planejamento marca esse reencontro, que é também um momento importante para se projetar um novo caminho, recheado de desafios e aprendizados.

Em outro post, falamos sobre os bons encontros e sobre uma das palestras que aconteceram durante a retomada de nossas atividades, realizada pelo professoroJosé Sergio Fonseca de Carvalho.Complementando o registro das nossas ações, pautadaspela investigação do tema Dos Sonhos Que nos Movem – Imaginar – Agir – Comunicar, destacamos agora a fala de um outro pesquisador, não menos provocativa para nós, artistas e educadores.  

 “Tempo, pensamento e ato de criação”

Tivemos um encontro instigante com Amauri Ferreira, filósofo, escritor e professor, autor dos livros Simplicidade Impessoal e Singularidades Criadoras, entre outros. A partir do tema que elegeu, ele buscou apresentar as singularidades de alguns pensadores, bem como a conexão entre suas ideias. E, assim, sua fala trouxe nomes, como Bergson, Spinoza, Nietzsche, Deleuze e Gattari.

Entre muitos assuntos potencializadores, sublinha-se aqui uma das concepções bergsonianas apresentadas, tendo em vista suas relações diretas com a sala de aula de teatro ou de criação. De modo bastante simplificado, podemos dizer que nós, seres humanos, somos constituídos por mecanismos sensório-motores e que, por meio destes, reagimos aos estímulos que recebemos. Há, porém, um intervalo entre estes estímulos e a suas respostas, o qual Bergson chama de “zona de indeterminação”.

Este intervalo, que permite o resgate da memória e o registro das novas percepções, em nosso dia a dia, se presta à atualização de uma lembrança utilitária, a partir do reconhecimento inconsciente. Por outro lado, é a ampliação desta mesma zona de indeterminação que dá margem aos atos criativos.

             Por isso, frente ao bombardeio de estímulos a que somos expostos, ainda segundo Bergson, se faz necessário cultivar outro modo de relação com o mundo. Este modo é o da contemplação, a qual possibilita o enriquecimento da percepção em função da atualização ampliada das nossas lembranças. Esta é uma forma de despertar a dimensão da duração em nós, que é diferente do tempo representativo ou do relógio.

            A intuição, por exemplo, é engendrada pela duração, pois fruto do conhecimento de nós mesmos como algo novo ou como uma potência em transformação. E é deste processo, portanto, que provém a emoção criadora, fruto de um estímulo nosso e não social, que coloca em nós uma ideia nova.

“A importância do tempo, do respiro, da calma e do relaxamento…”

No que concerne ao teatro, isso reforça a importância do tempo, do respiro, da calma e do relaxamento, para o nascimento orgânico de uma ação original. Esta zona de indeterminação é o nosso “entre”, quando o ator ou a atriz se coloca nas Circunstâncias e abre espaço para a Memória Afetiva, enquanto atualização da lembrança de uma situação análoga. Assim, é este momento de indeterminação, avesso ao utilitarismo, que possibilita descobrirmos a nós mesmos em formas novas de agir.

            Munidos de tais conexões e reflexões, partimos agora para a sala de aula. E transformados pela potência deste encontro, iniciaremos nossos processos de pesquisa.  Projetos estes que, com certeza, serão permeados pela contemplação e duração para que o ato criativo de realize. Cabe a nós, artistas e educadores, elaborarmos estratégias para tanto, o que nos exigirá uma atenção à zona de indeterminação, tanto na preparação de nossas aulas, como nos momentos de condução, a fim de também nos redescobrirmos enquanto diretores-pedagogos.

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