Frente ao momento que estamos vivendo, ainda em março de 2020, o Macunaíma iniciou um programa de aulas online, a fim de manter a chama do teatro acesa em cada um de nossos alunos e alunas. Mas este não foi um processo simples. Medo, angústia e frio na barriga foram os sentimentos experimentados por nós nos primeiros dias desta nova experiência. 

Muitas foram as reuniões para que as diretrizes metodológicas fossem reorientadas para uma forma de ensino não presencial, já que o teatro é, por excelência, a arte do encontro. E, inspirados pelo mestre Stanislávski, procuramos investigar meios de nos mantermos conectados a nossos alunos e alunas e a nós mesmos enquanto um coletivo dedicado à pesquisa pedagógica e artística do teatro. 

Isto exigiu e tem exigido uma imensa disposição à adaptação em todos os seus mais amplos sentidos. Mas é ainda Stanislávski que, para além do espectro teatral, tem sido nosso guia e nos provocado a pensar e a praticar formas de nos reinventarmos enquanto seres humanos e diretores-pedagogos. 

Como nos reinventamos? 

Agora, passado o susto inicial e já relativamente adaptados à plataforma por meio da qual nossas aulas estão acontecendo, temos procurado avaliar esta experiência e, ao mesmo tempo, manter a inventividade que ela nos provocou. Assim, temos revisitado nossos planos de aulas e buscado outros caminhos possíveis, focalizando cada estágio e disciplina. E isso para que não caiamos no ponto de reprodução de fórmulas e continuemos a pesquisa iniciada no semestre passado. 

Neste sentido, para cada estágio da formação de nossos alunos e alunas temos selecionados alguns materiais de estímulo e discutido como (re)pensar o nosso fazer pedagógico neste momento de educação à distância. Destacamos aqui dois textos que, lidos e discutidos coletivamente, têm gerado grandes reflexões sobre as nossas práticas.

O primeiro se refere a um trecho da pesquisa de mestrado de Inajá Neckel, atualmente professora da UFSM. Sua dissertação é intitulada Atitude Extrema e Salto – A Prática Laboratorial de K. Stanislávski no Estúdio de Ópera Bolshói e foi apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas Artes da UFMG em 2011. 

Este material e, mais especificamente, o capítulo: “A Atitude Extrema e os Mistérios Criadores” têm nos provocado a pensar em nosso plano de aulas do PA1, estágio teórico e prático de instrumentalização do Sistema Stanislávski. E isso porque a autora se usa da metáfora da escada para apresentar alguns elementos do Sistema Stanisláski enquanto degraus pelos quais os atores em fase de preparação devem passar. 

O outro material a que temos nos debruçado se trata de um excerto do livro Stanislávski Ensaia – Memórias, de Vassíli Toporkov, lançado no Brasil em 2016 pela Editora É Realizações, com tradução de Diego Moschkovich. Toporkov passou a integrar o Teatro de Arte de Moscou em 1927 e, além de aluno de Stanislávski, foi um grande divulgador de seus ensinamentos, escrevendo vários livros sobre o Sistema por ele criado.

O trecho selecionado a nos provocar é o relato de Toporkov sobre o processo de estudo de O Tartufo, de Moliére, último experimento coordenado por Stanislávski. E, tendo em vista a abordagem, de acordo com os preceitos stanislavskianos, do trabalho a partir de uma obra teatral, sua leitura têm nos ajudado a refletir sobre os processos de criação com os alunos do PA2 ao PA5. Temos, portanto, pensado e falado sobre as aulas online, a plataforma digital, nossas práticas, dificuldades, descobertas, desafios, bem como sobre a relação entre nosso trabalho e o Sistema Stanislávski. Com isso, continuamos em movimento, em pesquisa, procurando novos caminhos e nos mantendo motivados, a fim de motivar também nossos alunos e alunas para a investigação teatral.

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