Em primeiro lugar, a Turma do Macu se destacou na 29ª edição do Festival Estudantil de Teatro do Estado de São Paulo (FETESP), realizada entre 20 e 26 de julho, com a peça “Corpos Territórios”, dirigida por André Haidamus. O evento, promovido pelo Conservatório de Tatuí, contou com uma infraestrutura incrível e inúmeras atividades em diversos espaços culturais da cidade. No total, 60 trabalhos estudantis de 25 escolas foram inscritos, dos quais 11 foram selecionados.
FETESP: O Festival Estudantil de Teatro do Estado de São Paulo
Desde sua criação em 1977, com o I Festival Estudantil de Teatro, de âmbito municipal. O evento deu origem a um grande movimento teatral na cidade, por meio da adesão das escolas e do recém-criado Curso de Teatro do Conservatório de Tatuí.
Em 1982, o maestro Antonio Carlos Neves Campos assume a direção do Conservatório de Tatuí. E, nesse mesmo ano, o Festival passa a ser de âmbito estadual e é oficializado pelo Decreto número 18.434/82.
Sobretudo, após um hiato de sete anos, o FETESP foi retomado e ganhou o título pelo qual hoje é conhecido. Em 2022, a sua 27ª edição marca o relançamento do evento, já no formato como ele se realiza agora.
A 29ª edição do FETESP
Nesta edição, além da Mostra Estudantil de Artes Cênicas, o FETESP recebeu espetáculos de grupos convidados. Abrindo o Festival, foi apresentado “Vestido de noiva”, dirigido por Ione de Medeiros, vencedora do Prêmio APCA de Melhor Direção em 2023, e outras peças premiadas a se apresentarem foram “Tio Vânia”, do Grupo Tapa, “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”, da Companhia de Teatro Heliópolis.
Além disso, a Companhia de Teatro Heliópolis também conduziu uma oficina, “O Corpo em Cena”, enquanto a residência artística/montagem “Vissunga! Para Cantar Experiências de Vida, Morte e Vida de Novo” se configurou como um exercício cênico a partir dos antigos cantos chamados “vissungos”.
Por outro lado, não faltaram nem mesmo atividades virtuais, e lives com o título “Estudar teatro” foram realizadas com estudantes dos mais diferentes estados brasileiros. Ainda mais, um dos pontos altos desta edição do FETESP foi a viabilização de apreciações críticas dos espetáculos apresentados. Atividade que foi incorporada ao evento como estágio remunerado voltado aos estudantes internos e externos ao Conservatório de Tatuí.
“Corpos Territórios”
Como resultado, as apreciações críticas foram publicadas no jornal “BULI”, publicação do FETESP construída por muitas vozes e olhares. No entanto, ao todo, foram produzidas 7 edições do jornal, e a peça “Corpos Territórios” ganhou duas apreciações. Para contar um pouco sobre o espetáculo, reproduzimos abaixo a apreciação de Rafa Breves, por acreditarmos que não há melhores palavras para compartilhar a experiência da turma de formandos do Macu!
O CORPO DESSA MULHER É UMA ARMA
POR RAFA BREVES
“O espetáculo ‘Corpos Territórios’, do Teatro Escola Macunaíma, foi a última encenação estudantil do 29º FETESP e logo em seu início já apresentou à plateia seu propósito de desconstruir estereótipos e desafiar as narrativas tradicionais. As mulheres em cena, inspiradas na figura mítica de Medeia, foram apresentadas como seres complexos, cujas emoções e decisões são guiadas por uma profunda compreensão de si mesma e do mundo ao seu redor. A peça não se limitou a recontar a tragédia clássica: ela ampliou a discussão, trazendo à tona questões contemporâneas sobre a posição da mulher na sociedade, suas lutas internas e a forma como é percebida pelo outro. O uso do corpo como ferramenta narrativa é uma das características mais marcantes do espetáculo. ‘É um espetáculo-partitura’, avisou uma das atrizes em um monólogo inicial. E se utilizando da prática de Viewpoints, a encenação de fato valorizou a expressão corporal como meio de comunicação, utilizando movimentos precisos e simbolismos para transmitir a jornada emocional de cada um em cena, utilizando-se, também, assim como em outros espetáculos desse festival, do texto épico e narrativo, com muitas sentenças. Uma delas é: ‘Terra da gente é a terra da gente’. Essa frase foi dita várias vezes durante a peça, bem como outras expressões que se repetiram e se desdobraram. Contudo, essa me marcou, pois o grupo optou por trazer a terra de forma literal. Com uma delimitação de tijolos, muitos quilos de terra foram trazidos ao Teatro Procópio Ferreira para que, com pés descalços e roupas jeans, os atores pudessem criar imagens potentes que colaboraram para criar um ambiente envolvente e sensual, que foi retratado de várias formas, principalmente nas ‘festas que as mulheres preparam com coisas que explodem’. Pow! Explode o espumante! Explode a energia, o amor, a violência. Medeia, entrecortada, aparece e reaparece nos gritando que é do “tamanho do amor”. Um amor que ultrapassa barreiras. Fronteiras. E que bonito é ver os atores trazerem em cena as problemáticas dos territórios e de como eles são determinados e instituídos. Grada Kilomba, em uma entrevista no programa Roda Vida, destacou que os conceitos de fronteira vão além das questões geográficas, sendo também simbólicos e psicológicos. Kilomba argumenta que a colonização não apenas ocupa territórios físicos, mas também impõe fronteiras culturais e identitárias, definindo quem pertence ou não. E as mulheres pertencem? Cubanos pertencem? E os sírios? Pertencem? Medeia se faz pertencer. Seu corpo é uma arma, apontada para a cara do patriarcado, explorando a multiplicidade da experiência feminina e do seu símbolo de autonomia. Que ‘o sonho que a gente sonha toda noite’ possa ser aquele com tiros, que na verdade são fogos de artifícios que evocam o mito, a força. Evóe, Medeia!”
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