No dia 10 de setembro de 2021, Nair D’Agostini participou do Projeto de Pesquisa “Estúdio Fisções – Princípios e Práticas Para a Atuação Cênica Viva”. O evento foi realizado em parceria com o Grupo de Pesquisa em Estudos Vocais, Cênicos e Musicais (LEV), Centro Latino-Americano de Pesquisa Stanislávski (CLAPS) e Coordenadoria de Cultura da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).

Além da apresentação de Marcus Fritsch e Vinícius Albricker, professores da UNIRIO, a conversa contou com a mediação de Daniela Lima, recém-mestra pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Nair D’Agostini falou sobre o Método da Análise Ativa, de Konstantin Stanislávski, e na sequência, Michele Almeida Zaltron fez sua exposição acerca do trabalho do ator sobre si mesmo, registrada em outro artigo.

 Nair D’Agostini é doutora em Literatura e Cultura Russa pela Universidade de São Paulo (USP) e possui pós-graduação pelo Instituto Estatal de Teatro, Música e Cinema de Leningrado (LGITMIK). Professora aposentada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ela faz parte do conselho artístico do CLAPS, cuja parceria com a Editora Perspectiva resultou na publicação de sua pesquisa: Stanislávski e o Método de Análise Ativa (2018).

Os antecedentes da Análise Ativa

Sobre o Método de Análise Ativa, Nair D’Agostini começou pelo que o antecedeu. Desde a fundação do Teatro de Arte de Moscou (TAM), Stanislávski e seu parceiro Niemiróvitch-Dântchenco se empenharam por um trabalho coletivo e pela busca de uma linguagem comum.

Mas ainda o método utilizado por eles nos ensaios era o que conhecemos por “leitura de mesa”. Como o nome já sugere, a leitura de mesa consiste na reunião do elenco e direção do espetáculo com o objetivo de estudar a peça pela leitura.

É, assim, por meio desse contato com o texto que cada ator ou atriz toma conhecimento de seu papel e de toda a peça. Segundo Nair D’Agostini, esse procedimento se estendia por 3 ou 4 meses, e só no último mês de ensaios, os atores e atrizes de Stanislávski iam para a prática.

A criação do Método

Logo, a leitura de mesa, enquanto método de criação, prioriza a apreensão teórica da peça, ou seja, o seu conteúdo. E, a certa altura, a passividade com que desenvolviam seus estudos começo a incomodar o mestre russo.

Como comentou Nair D’Agostini, ele conclui que a leitura de mesa deixa os atores e atrizes com a “cabeça cheia”, mas com as “pernas finais”. E esse incomodo de Stanislávski o leva a um processo de revisão de seu Sistema e à sua guinada metodológica.

É quando então ele passa a tomar a ação como base da criação em teatro. E a partir desse momento, ele cria o Método de Análise Ativa, nome que Maria Knebel, discípula de Stanislávski, deu às suas pesquisas sobre as Ações Físicas. 

O princípio das Ações Físicas

O princípio do Método de Análise Ativa é o exame da peça e do papel de modo ativo. Assim, essa nova metodologia se desdobra em uma série de procedimentos que colocam o ator ou atriz em atividade prática.

Com isso, Stanislávski visava a fusão entre o ser físico e psíquico, entre o corpo e a mente. Ou ainda, por meio de um estímulo consciente, acessar o inconsciente, o que também significa dizer por meio da Ação Física despertar uma emoção, muitas vezes impensada. Sendo essa a essência do que Stanislávski chama de criação da “vida do espírito humano”.

A revolução teatral

É no seu último estúdio, o Estúdio de Ópera e Arte Dramática (1935-1938), onde Stanislávski aprofunda sua metodologia das Ações Físicas e da Análise Ativa. Essas novas experimentações, que ele mantém até o seu falecimento, em 1938, ressignificam a cena teatral. Pois esta passa a não ser apenas o templo da palavra, mas o lugar onde se desvelam os acontecimentos e as circunstâncias de uma obra.

Desse modo, o teatro ganha independência enquanto arte. E o trabalho do ator ou da atriz, bem como o do diretor ou da diretora, torna-se o de traduzir um tipo de linguagem para outra: da dramaturgia para a ação.

Uma pedagogia da atuação

Nós, diretores-pedagogos do Macunaíma, temos o Método de Análise Ativa como base de nosso trabalho diário em sala de aula presencial e online. Por isso, para nós, como destaca Nair D’Agostini, o levantamento das circunstâncias e dos acontecimentos de uma peça é de extrema importância.

É a partir dessa investigação prática que nossos alunos e alunas descobrem os caminhos de uma ação lógica e coerente. É dessa forma também que o nosso papel em nada se assemelha ao de um ensaiador ou marcador de cena.

Isso é ainda o que nos coloca em constante movimento de investigação enquanto educadores e educadoras. Uma vez que nosso caminho não está dado, é no caminhar que o construímos.

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