Teatro é uma arte coletiva, uma relação entre os homens.
Anatoli Vassíliev

Talvez nunca tenhamos tido tanto tempo e motivos para sonhar! O isolamento e os novos padrões de convivência a que tivemos que nos adaptar nos incentivaram a projetar sonhos. Entre eles, o sonho de voltar a encontrar a família e os amigos, bem como o sonho de um mundo mais justo e igualitário, cuja necessidade de transformação a pandemia só tornou mais evidente. Então, neste semestre, escolhemos como tema para as nossas investigações artísticas, o enunciado: Dos Sonhos Que nos Movem – Imaginar – Agir – Comunicar.

            Todos temos sonhos, que nos particularizam no mundo constituído por sonhadores. Contudo, ao contrário do que às vezes se possa pensar, estes não são tão emancipados assim. Logo, não estão destrelados dos sonhos coletivos, na medida em que somos parte de um mesmo corpo social. Por isso, para que os sonhos individuais se realizem, há que se ter liberdade e condições para sonhar, o que implica nossa estrutura política e econômica.

Assim, as questões de fundo dos sonhos que movem cada um de nós sempre se identificam em algum ponto. E se unem na projeção de um futuro e de um mundo outros.

Neste sentido, o tema também se relaciona com concepção ética stanislavskiana. Afinal, para Stanislávski, o comportamento do ator ou da atriz, dentro e fora dos palcos, não está dissociado do ser humano-artista.

A ética de Stanislávski

Conforme acreditava o mestre russo, as posturas do indivíduo inserido no grupo de teatro devem refletir e, ao mesmo tempo, transformar suas atitudes no e para com o mundo, bem como suas relações com os seres viventes, humanos ou não. É desta forma, portanto, que o tema busca se relacionar com psicotécnica do Sistema Stanislávski em suas investigações metodológicas e seus teores artístico-pedagógicos.

Ainda assim, a materialização dos nossos sonhos, por meio do teatro, está calcada no tripé que funda sua existência: Imaginar, Agir e Comunicar. Tripé este que, extrapolando o palco, também queremos que sustente nossas vidas, como pensava Stanislávski.

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Porém, um tema de investigação, na maior parte das vezes, se traduz em uma pergunta. Pois a forma de um enunciado enquanto questão ajuda na mobilização dos esforços e energias que colocam todos em movimento de pesquisa. E, ainda assim, para estimular as nossas ações, temos a seguinte pergunta investigativa: “Qual matéria dos sonhos vamos eleger, converter em ação e comunicação para mover coletivamente a construção de sentidos éticos?”

Portanto, complementando esta pergunta, há ainda outras, que têm por objetivo levantar e apresentar um “problema”. Porém este, no campo da pedagogia, não tem a mesma conotação que seu uso corriqueiro. Um problema, na relação de ensino-aprendizagem, se refere a uma situação, tarefa ou questão enquanto estratégia que estimule sua resolução por meio da análise. Enfim, os problemas com que teremos que nos a ver este semestre são: “Como podemos nos tornar parte ativa dos nossos sonhos? Do mesmo modo que a imaginação, ação e comunicação podem estabelecer uma relação com a plateia a partir dos nossos sonhos? Que sentidos éticos queremos despertar no sonhar coletivo?”

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No sentido ainda de balizar nossas ações, estabelecemos também um “aonde chegar”. Este, por outro lado, não se configura como um fim pré-estabelecido ou como um lugar exato. Ele se assemelha mais a uma bússola, que nos ajuda a retornar à trilha investigativa quando nosso leque de referências se torna muito vasto.

Neste semestre, o nosso ponto de apoio ou “aonde chegar” é “Transformar a ideia da peça em uma realidade artística. Potencializar os estímulos à liberdade e imaginação criativa. Expandir o prazer e alegria da descoberta cênica. Semear a ética por meio da arte. Sonhar!”

Por fim, todos os processos e os diferentes caminhos de pesquisa encontrados serão apresentados na nossa mostra teatral. Realizada no final do semestre letivo, ela viabiliza a experiência do Comunicar, ou seja, compartilhar as ideias, reflexões e práticas suscitadas pelas criações artísticas. Somada ao Imaginar e Agir, ele completa o tripé que sustenta o teatro e nos permite convidar outros a habitar os sonhos que projetamos.

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