“Quiz” Stanislávski: Quem se emociona, o ator ou a personagem? Por Simone Shuba

Eu vou responder mais uma pergunta do nosso Quiz Stanislávski: Quem se emociona, o ator ou a personagem? Para pensar sobre esta pergunta é muito importante lembrar algo essencial ao Sistema Stanislávski ou o seu coração, que é a vivência ou perejivánie. Na vivência, a vida física e emocional se manifesta nas experiências intensas e profundas vividas por um ser humano artista.

Mas do que isso se difere da atuação anterior a Stanislávski? Da representação! Se antes o ator apenas representava, Stanislavski propõe que ele olhe para si mesmo enquanto ser humano. Pois é a partir deste olhar para si mesmo que o ator deverá também olhar para o papel. E nesta relação com papel, o ator vivencia, experiencia e se transforma. 

Vivência ou perejivánie

Para Stanislávski surge então a ideia de que o teatro é uma reflexão da vida e que, portanto, tem que começar com uma reflexão da própria vida do ator. Esta é a relação que ele propõe no seu Sistema e que é totalmente diferente do que existia antes. Esta é a grande busca de Stanislávski: como viver o papel de forma cada vez mais autêntica e ao mesmo tempo artística no palco. 

O palco, para Stanislávski, deixa de ser um tablado onde os atores apenas se apresentam e passa a ser o mundo onde eles vivem. Para Stanislávski, o palco, assim, passa a ser um lugar vivo. Pois, na vivência, a vida se manifesta de forma viva e artística. E a ação é o principal fundamento para a experiência da vida no palco. 

A ação

Na vivência, a chave para o ator é a ação, é por meio dela que o ator se manifesta. Neste sentido, o ator não pensa em emoção, ele pensa na ação, na ação para expressar algo, na ação para dizer algo. Mas algo que o afete na sua relação com papel. Assim, o ator expressa sua criação através da ação, a sua criação está na ação. 

É na ação que reside a essência para nós atores, é nela que está o foco do nosso trabalho. O foco está na ação, porque a ação é a nossa expressão física. É por meio dela que vamos, de fato, nos comunicar com outro no palco e com a plateia. Toda a comunicação do ator acontece pela ação. 

A emoção 

Se pensarmos em emoção, a vida desaparece imediatamente. O ator deve pensar em ação e não em emoção, pois esta se manifesta sem pensarmos nela. Stanislávski tem uma frase em que ele diz: “Quem busca emoção encontra tensão!” E o ator não pode estar tenso, ele tem que estar relaxado. 

Então o ator deve pensar em quê? Na ação! E a emoção acontece quando a ação, de fato, for física e emocional. A emoção acontece quando a ação afeta o nosso corpo. Quando o nosso corpo vibra, a emoção surge sozinha. 

O ator e o papel

Em outra citação, Stanislávski diz: “O ator vive, ele chora, ele ri em cena, mas ao chorar e rir, ele observa o seu riso e suas lágrimas. É nesta dualidade da vida, neste equilíbrio entre vida e atuação que está a arte.” Então nós nos emocionamos? Sim, nós atores, seres humanos, nós nos emocionamos, porque aprendemos com o papel. E é neste aprendizado que está a arte.

 Nós observamos tudo o que estamos vivenciando, e é nesta vivência e observação que existe a arte. Isso é muito bonito, pois diz sobre uma consciência que nós vamos adquirindo do ser humano, do nosso corpo e da nossa expressão. A criação significa, antes de tudo, emoção. O ato de criar é emocionante, mas nós não buscamos a emoção. Nós buscamos agir, mas este agir já é emoção.