Finalizado o 1º Colóquio CLAPS – Um dia entre Grotowski e Stanislávski, pode-se dizer que ele se caracterizou como “um dia entre os mestres de ontem e de hoje”. Este encontro, que contou com masterclasses, palestra e mesa de debate, teve a participação de importantes pesquisadores destes dois grandes nomes do teatro e foi de imenso aprendizado e troca para todos os presente. Destacamos abaixo alguns dos principais temas discutidos na tarde de 18 de outubro, após a realização das atividades práticas, que aconteceram no período da manhã. 

“A ação independe do movimento – Um encontro da atriz com a personagem”

Débora Duboc, atriz premiada no cinema e teatro nacional e internacional, falou sobre o processo de criação da personagem da peça Valsa de Lili, escrita por Aimar Labaki e dirigida por Débora Dubois, inspirada no livro Pulmão de Aço, de Eliana Zagui. Neste espetáculo, que se configura como um monólogo, Débora Duboc interpreta uma mulher que só consegue movimentar os músculos do pescoço e da cabeça, mote para que a atriz refletisse sobre o verdadeiro sentido da ação dramática para Stanislávski e sobre o papel da imaginação para o trabalho do ator e da atriz. 

“O legado de Stanislávski ao ator contemporâneo”

Elena Vássina, pesquisadora russa e professora da FFLCH-USP, que abriu a mesa de debate composta pelos coordenadores das masterclasses, Camilo Scandolara e Tatiana Motta Lima, pontuo a constante busca de Stanislávski pela transformação do ser humano e pela Verdade, com “V” maiúsculo, uma verdade superior, divina, cósmica. Elena salientou o papel de Stanislávski para o teatro do século XX e reforçou a ideia de que seu sistema não foi concebido como um manual, mas como algo em eterna transformação, alterado e complementado por cada novo discípulo do mestre russo. 

“Inventar o laboratório teatral: O ‘sistema’ nos primeiros estúdios” 

Camilo Scandolara, professor do Curso de Artes Cênicas da UEL, enfatizou, na criação do Primeiro Estúdio – seu tema de pesquisa –, a invenção da prática laboratorial, a qual procurava caminhos alternativos à ideia de escola em sentido tradicional. Para o pesquisador, o Primeiro Estúdio perspectivava novas formas para a pedagogia teatral, que negavam a repetição de fórmulas e a reprodução de modelos, afirmando um modo não só estético como também ético de se posicionar perante o ofício teatral. 

“Ações para os dias de hoje: Em diálogo com Stanislávski e Grotowski”

Tatiana Motta Lima, professora associada da UNIRIO, discorreu, principalmente, sobre o papel social do teatro, a partir do que ela chamou de “tecnologias de convivência”, modos de agir e interagir trabalhados pedagógica e artisticamente no campo teatral, como a escuta e a atenção. Estes conceitos práticos, para Tatiana, podem e devem se expandir para outras esferas de nossa vida, alterando nossos afetos, bem como nossa forma de se relacionar com o mundo a nossa volta.
Encerramento

Cacá Carvalho, convidado especial do 1º Colóquio CLAPS, teve uma significativa participação ao final do evento. O ator tomou uma categoria da cultura popular, o encantamento, para falar sobre a chama da vida, o que nos anima e dá sentido a nossa existência. Cacá destacou a existência do que chamou de “cultura passiva”, que nos fomenta intelectualmente e nos coloca em ação, para advertir sobre a consciência do que nos forma e do que ou de quem estamos formando. 

É impossível colocar em palavras a experiência que representou o 1º Colóquio CLAPS, e os comentários acima são apenas uma amostra da riqueza do evento. Este encontro, em todos os seus detalhes, foi sem dúvida uma vivência inesquecível de partilha de conhecimentos de grandes mestres de hoje sobre mestres de ontem, retomados e reinventados de acordo com a melhor tradição stanislavskiana. 

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